Quais são as perspectivas do trabalho remoto para os próximos anos?

A transformação digital já tornava natural imaginar um cenário em que os colaboradores trabalhassem de forma remota. Com as ferramentas adequadas disponíveis, esse processo se tornou mais simples apesar de que o método presencial ainda era dominante. No entanto, a chegada da pandemia e a necessidade de isolamento social proporcionaram mudanças no cenário e agora é importante entender mais sobre as perspectivas do trabalho remoto. 

Recentemente desenvolvemos um eBook gratuito sobre a transformação digital e os novos modelos de trabalho - e entre as tendências que têm cada dia mais se perpetuado no dia a dia corporativo, o trabalho remoto é uma das mais relevantes. Afinal, após todo esse tempo com o home office em alta, o início da vacinação e relaxamento de algumas medidas de distanciamento, como vai ser o futuro do ambiente de trabalho? Quais são os benefícios de seguir com um modelo ou outro? Como as empresas precisam se adaptar para fazer com que não se perca em produtividade independentemente do local de trabalho escolhido?

Quando o assunto é especificamente trabalho remoto, dúvidas como essas têm se tornado cada vez mais comuns, especialmente para gestores que precisam tomar uma decisão nos próximos meses. Pensando nisso, conversamos com a Head de Pesquisa do Grupo Cia de Talentos, Danilca Galdini, para esclarecer os seus questionamentos sobre o assunto e garantir que o seu negócio esteja preparado para se adaptar ao novo cenário que se desenha e às perspectivas desse modelo de trabalho. Continue a leitura deste conteúdo para se aprofundar ainda mais no tema.

Qual é a relação entre o trabalho remoto e a pandemia?

A era digital já estendia o ambiente de trabalho para empresas e profissionais dos mais variados segmentos. Quantos e-mails não eram respondidos via celular mesmo após deixar o escritório? Com o acesso mais fácil aos recursos tecnológicos, as companhias já experimentavam pequenas demonstrações de como o trabalho remoto funcionaria.

Com a pandemia, entretanto, todo esse processo foi acelerado, forçando as empresas a adotar o trabalho remoto em sua totalidade em grande parte dos casos. Apesar de um início confuso e desafiador para a maioria das organizações — especialmente aquelas ainda muito longe da transformação digital —, o cenário mudou com a adaptação ao novo modelo de trabalho.

Em um estudo feito poucos meses após o início do isolamento social, em maio de 2020, a Cushman & Wakefield identificou que mais de 70% das empresas no Brasil pretendiam adotar o home office definitivamente mesmo depois da pandemia. Enquanto isso, uma pesquisa da Fundação Instituto de Administração (FIA) mostrou que 67% das organizações não implementaram o modelo de forma eficaz.

O mesmo estudo da FIA, porém, mostra que a maioria das empresas entrevistadas — 94% — entendeu que as expectativas com o trabalho remoto foram alcançadas ou até mesmo superadas. Mesmo com os números positivos, 7 em cada 10 dessas organizações não devem seguir no modelo por completo, e a tendência é redução do home office apenas para uma parte dos colaboradores.

Ao mesmo tempo, os funcionários têm uma visão positiva sobre o home office e 70% deles desejam permanecer — total ou parcialmente — trabalhando de suas casas após a pandemia. Ou seja, houve uma modificação completa em relação à forma como as empresas devem pensar o seu ambiente de trabalho, e a expectativa é de que novas mudanças apareçam nos próximos meses.

De acordo com Danilca Galdini, o experimento forçado com o home office por conta da pandemia se mostrou positivo e ajudou a acabar com o receio que muitos gestores tinham do modelo de trabalho.

"A infraestrutura para o trabalho remoto evoluiu muito nas últimas décadas, o que permitiu que algumas empresas experimentassem dias de trabalho remoto. Mesmo com resultados positivos, líderes e negócios tinham muito receio sobre o impacto dessa modalidade na produtividade das pessoas e na segurança de dados. Com a pandemia, os empreendimentos foram forçados a mudar, e o experimento mundial mostrou que o trabalho remoto funciona", comenta.

Mesmo com o eventual fim da pandemia, portanto, Danilca entende que a transformação digital e o teste bem-sucedido devem fortalecer a manutenção do trabalho remoto no dia a dia das empresas, sempre com as adaptações necessárias para a realidade de cada uma.

"Acredito que o trabalho remoto será mantido. Não será adotado por todas as empresas nem por todos os profissionais, mas certamente será uma opção mais estruturada e tangível para aqueles que entenderem ser um modelo positivo. E, como tudo que é novo, descobriremos pontos positivos, pontos que precisam de atenção e pontos negativos", completa.

Quais são as vantagens e desvantagens desse modelo de trabalho?

Além de entender sobre as perspectivas do trabalho remoto, é importante se aprofundar nos impactos positivos e negativos que ele proporciona na realidade das empresas. Um exemplo disso é a necessidade de estruturar um clima organizacional mais forte dentro das organizações, permitindo que a produtividade no trabalho remoto não seja afetada, como destaca Danilca.

"A infraestrutura para que o home office aconteça está sendo aprimorada, e vimos que a produtividade e o trabalho em equipe não deixam de acontecer, mas é preciso cuidar de alguns aspectos que são importantes tanto para o trabalho presencial quanto para o remoto, como cultura organizacional e outros que se tornam ainda mais relevantes, como a comunicação".

Para ela, existem alguns pontos que precisam ser trabalhados pelas organizações na busca pelo sucesso dentro desse modelo de trabalho, como:

  • cultura organizacional: para encontrarmos formas de garantir que as equipes tenham senso de pertencimento, sintam-se valorizadas;
  • liderança: para que fique claro que o formato comando-controle não faz sentido há muitos anos e agora, com o trabalho remoto, menos ainda;
  • comunicação: precisa considerar uma nova forma de relação entre as pessoas, com mentalidade digital, que é muito mais do que digitalizar a empresa.

Além disso, existem outros desafios que dificultam a implementação do trabalho remoto. Um exemplo disso é a questão jurídica, que não é tão simples de ser resolvida e precisa de avanços por parte do governo para que a questão esteja alinhada ao cenário atual.

"Três grandes pontos impactavam a adoção do trabalho remoto: falta de uma legislação trabalhista, receio das empresas com relação à segurança da informação e estilo de liderança focado no comando-controle. A pandemia forçou o governo e as empresas a caminharem com soluções para os dois primeiros pontos, agora precisamos focar na reeducação da liderança para que adotem uma mentalidade de gestão de pessoas em conformidade com o mundo atual", afirma a especialista.

Apesar dos desafios, Danilca reforça que a possibilidade precisa ser, no mínimo, levada em consideração por parte das empresas. "É importante ressaltar que o trabalho remoto não tem só vantagens nem é o único modelo que funciona, mas entendo ser complicado uma empresa que não avalia esse modelo como uma possibilidade. Optar pelo presencial porque foi feita uma avaliação do formato remoto e ficou claro que ele não garante aspectos da cultura organizacional ou traz impactos negativos para o negócio ou pessoas é válido, agora não considerá-lo porque não podem checar se o funcionário está mesmo trabalhando mostra uma mentalidade que não é boa para os negócios e nem para gestão de pessoas.", aponta.

Danilca lembra que existem alguns pontos positivos ao adotar esse método de trabalho, mas o mais importante é experimentar os diferentes modelos e encontrar aquele que funciona melhor para cada organização.

Segundo a executiva, "um dos pontos positivos sobre o trabalho remoto é a flexibilidade que ele oferece: as pessoas podem trabalhar de qualquer lugar e para qualquer lugar, ou seja, têm a opção de morar na Bahia e trabalhar para uma empresa de Minas Gerais ou morar no Canadá e trabalhar para uma empresa de São Paulo. Ele também gera um melhor bem-estar à medida que não perdemos horas no trânsito, por exemplo".

E completa: "Tudo é uma questão de equilíbrio e limites, mas ainda estamos aprendendo isso. Não encaramos o trânsito, mas a quantidade de reuniões sequenciais e sem intervalos está nos deixando estressados. A produtividade está alta, mas porque as pessoas estão trabalhando muito mais horas. É tudo novo e estamos experimentando, sendo preciso estar atento aos ganhos e trabalhar naquilo que impacta negativamente as pessoas."

Quais são as perspectivas do trabalho remoto para os próximos anos?

Confira alguns pontos importantes que surgem com este modelo de trabalho:

Cultura digital

Quando se fala em perspectivas para o trabalho remoto, é importante entender que os pontos positivos desse modelo só vão funcionar com uma mudança mais profunda dentro das organizações, desde o ambiente de trabalho e as ferramentas adequadas até as práticas que vão estimular a comunicação, a colaboração e a produtividade. Tudo isso faz parte de uma cultura digital, que é necessária para esse momento.

Conforme ressalta Danilca, "o trabalho remoto só funciona em sua total potencialidade se a empresa tiver uma cultura digital, ou seja, as pessoas pensarem de forma digital." Isso não significa utilizar uma ou outra ferramenta tecnológica na sua operação diária. Se trata de uma mudança organizacional, com todo o processo de trabalho mais eficiente, conectado e automatizado, tornando a tecnologia parte importante da companhia.

"Ser digital é sobre integrar a tecnologia em todas as áreas da empresa e mudar a maneira como opera e entrega valor aos clientes, então estamos falando sobre uma mudança na maneira de pensar e agir. O futuro digital prevê mudanças múltiplas e frequentes, o que exige uma nova postura de empresas e pessoas. Isso significa que é tanto sobre pessoas e mudança organizacional quanto sobre a implementação de tecnologias específicas", afirma.

Implementar uma cultura digital é necessário, portanto, para que o trabalho remoto funcione, e isso é muito maior do que utilizar a ferramenta X ou Y. "O trabalho remoto é uma maneira nova de desempenhar as funções profissionais que requer infraestrutura específica, processos mais ágeis e descomplicados (que funcionem de forma virtual) e um comportamento diferente das pessoas e sua liderança".

Líderes e gestores mais atuantes

Para que essa mudança cultural aconteça, é preciso que os líderes e os gestores de uma empresa também desenvolvam essa mentalidade. É a partir da postura e do comportamento de quem está no topo de uma organização que os resultados vão aparecer em todo o restante, de acordo com a especialista.

"O papel dos líderes e gestores de equipe, tão importante no dia a dia da empresa, ganha ainda mais destaque no cenário virtual, já que eles são fundamentais na criação de um ambiente positivo no contexto do trabalho remoto. Ou seja, aqui temos vários desafios postos. Um dos aspectos fundamentais para uma cultura digital é a autonomia das pessoas para que a empresa seja ágil, mas isso esbarra em um formato de liderança que ainda persiste em muitas empresas brasileiras", aponta a Head de Pesquisa.

Remote first

Como muitas empresas avaliaram com sucesso o trabalho remoto durante a pandemia, algumas delas decidiram seguir com o modelo mesmo após o período de distanciamento social. Trata-se de um conceito conhecido como "remote first", ou seja, colocando o trabalho à distância como prioridade dentro de toda a organização, exatamente o que está sendo testado na Cia de Talentos.

"Vamos experimentar porque falamos com toda a nossa equipe e a maioria das pessoas disse que queria testar o trabalho remoto. Organizamos uma infraestrutura para que todos trabalhem de casa e estamos aprendendo muitas coisas nesse processo. Fizemos boas descobertas sobre produtividade, qualidade de vida e diversidade na equipe", afirma Danilca. Contudo ela reforça que existem alguns desafios a serem enfrentados, principalmente de comunicação, além das limitações que a pandemia ainda gera. 

"Montamos desde e-books com orientações e combinados organizacionais até reuniões com toda a empresa. Também temos um escritório físico para dar apoio à equipe, seja para quem não gosta de trabalhar de casa ou para aqueles momentos em que a reunião presencial faz diferença. Acredito que o modelo remoto first é um formato que pode ser interessante para alguns negócios, mas é fundamental existir um espaço de apoio para encontros presenciais para o relacionamento entre equipes", declara a representante da Cia de Talentos.

Mais trabalho estratégico

Como o trabalho remoto implica uma empresa focada na transformação digital, toda a estrutura dos negócios é modificada. E uma das perspectivas que esse ambiente proporciona é o trabalho mais estratégico e menos repetitivo e burocrático.

Danilca explica que "o digital pode tornar o trabalho do dia a dia menos processual, liberando as pessoas para dedicarem seus conhecimentos e habilidades para construir algo de valor em vez de ficarem reféns de processos que tomam tempo e, embora sejam essenciais, tiram o foco da entrega. Esses processos não deixaram de ser feitos. Ao contrário, continuarão parte do dia a dia, mas pensados para serem mais ágeis e automatizados".

Anywhere office

Outro conceito que ganha espaço com o trabalho remoto é o anywhere office. A tradução livre para "escritório em qualquer lugar" já indica do que se trata. Uma empresa tem a opção de manter uma equipe espalhada por todo o país, por exemplo, e cada um em sua cidade realiza as suas tarefas sem nenhum tipo de problema ou dificuldade estratégica por conta da tecnologia.

Ao mesmo tempo, reforça o desafio e a responsabilidade dos gestores e dos profissionais, já que é necessário garantir a qualidade do trabalho, seja ele feito em casa ou em um hotel. Além, é claro, do compromisso com as suas obrigações, como a participação em reuniões mesmo com diferenças de fuso horário. Para ter resultados positivos, porém, a equipe de Recursos Humanos deve ser ainda mais atuante para estreitar a comunicação.

Trabalho híbrido

Além disso, o trabalho remoto se torna mais um formato disponível para uma organização, o que não significa que ela vai adotá-lo todos os dias. É assim que surge o método híbrido: alguns dias no escritório e outros em casa ou qualquer outro lugar de escolha do colaborador. Vai servir, portanto, como uma opção mais estruturada e praticável para aqueles que conseguirem implementá-lo com eficiência.

Danilca comenta que "para algumas empresas, o trabalho 100% remoto funcionará muito bem, para outras, o formato de dias no escritório e dias remotos vai gerar um impacto mais positivo. Ainda estamos na fase de experimentação e muitas situações ainda se misturam com as limitações da pandemia e a necessidade de isolamento social. Precisamos viver o modelo remoto em um contexto normal para termos uma avaliação mais precisa, mas acredito que é um formato que não vai desaparecer".

Reforça, no entanto, que é importante ter um planejamento adequado para assegurar que o trabalho híbrido não prejudique o desempenho de toda a equipe e enfatize os encontros presenciais. "Se partirmos da premissa de que o trabalho pode ser total ou parcialmente remoto, é uma questão de planejamento saber quais atividades fazer nos dias de atividades presenciais e quais serão realizadas nos dias de trabalho remoto", indica Danilca.

Busca por competências comportamentais

Dentro do contexto de trabalho remoto, é natural também que as empresas procurem por algumas competências comportamentais específicas ao contratarem para a sua equipe. A comunicação, por exemplo, se torna um elemento essencial para que o trabalho tenha resultados positivos em todos os aspectos. Saber trabalhar em equipe também é muito importante, além de questões como equilíbrio emocional, adaptabilidade e motivação.

Aumento das contratações por projetos

Outra mudança significativa no mercado de trabalho que provavelmente será facilitada pelo trabalho remoto é o aumento no número de contratações por projeto. Em vez de ter uma equipe inteira à sua disposição, as empresas realizam contratações pontuais de acordo com as suas demandas. Afinal, com mais pessoas trabalhando a partir de suas casas, é mais simples adaptar a estrutura de trabalho, por exemplo.

De acordo com um estudo realizado pela Robert Half, esse modelo se tornou muito mais popular durante a pandemia, e metade das empresas que fizeram esse tipo de contratação pretendem seguir com ela para o cenário pós-pandemia. É um método que proporciona economia de custos para as companhias e, quando feito corretamente, não prejudica a qualidade da entrega.

Trabalho colaborativo

A mudança cultural necessária afeta também o comportamento dos profissionais, exigindo uma atuação mais próxima e em conjunto entre a equipe. Trata-se de colocar em prática o conceito de trabalho colaborativo. A ideia é integrar colaboradores de diferentes setores em torno de um mesmo objetivo e de compartilhar informações em tempo real.

O objetivo é que todos atuem a partir de uma única ferramenta, centralizando as informações e tornando toda a comunicação mais prática. Assim, as distâncias geográficas não se tornam um empecilho tão grande, e a produtividade não é afetada.

Como facilitar a implementação do trabalho remoto?

Uma das maneiras de potencializar os benefícios com a implementação do trabalho remoto é o investimento em digitalização e automação de processos. Já imaginou armazenar todos os documentos da companhia em uma estrutura física ou não conseguir centralizar todos esses dados? O impacto é o suficiente para perder possibilidades de vendas ou desperdiçar tempo com tarefas burocráticas.

Ferramentas como a DocuSign oferecem uma solução para as organizações que querem se modernizar. Um exemplo é o serviço de assinatura eletrônica, que agiliza processos, negociações e contratos a partir de qualquer dispositivo, independentemente do lugar e do horário. A plataforma ainda permite a gestão de todos esses arquivos e documentos de forma remota, com segurança e praticidade.

Para Danilca, são ofertas como essa que facilitam a implementação do trabalho remoto dentro de uma organização. Imagine que um documento precisa ser assinado por três profissionais que atuam em diferentes setores da empresa. Quanto tempo será economizado com a digitalização desse processo? É preciso ter ferramentas que potencializem o mindset digital.

"A digitalização e a automatização de processos são muito positivas para os negócios e para as pessoas, porque liberam o tempo dedicado para realização e acompanhamento de tarefas que, embora importantes para o todo, podem ser morosas. Além disso, oferecem um serviço que agiliza toda uma cadeia de processos e também contribui para a cultura e o pensamento digital".

As perspectivas em relação ao trabalho remoto são muitas, e isso é excelente para quem tem como prioridade a produtividade no ambiente de trabalho. Dessa forma, se torna mais fácil encontrar um método que se encaixe melhor ao perfil da sua equipe. Com as ferramentas certas em mãos, o desempenho das organizações tende a ser positivo independentemente do modelo escolhido.

Novos modelos de trabalho e o futuro das empresas 

Como você pode ver, o trabalho remoto é um dos modelos que mais vem ganhando espaço no mercado nos últimos anos. A transformação digital e os novos modelos de trabalho têm mudado completamente o cenário corporativo. Além do trabalho remoto, quais são os outros modelos de trabalho em ascensão? Quais são as vantagens de adotá-los nas empresas? Como estes moldarão o futuro do trabalho? Baixe o nosso eBook gratuito e aprofunde-se sobre o assunto para preparar sua empresa para o amanhã. Faça o download aqui.

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